Na noite da última terça-feira (29/11), a gestão “Da Unidade Vai Nascer a Novidade”, promoveu um encontro formativo para debater, com convidados especiais e a categoria, o tema “ Cultura Antirracista, Educação e Democracia”. O evento fez parte das ações alusivas ao Mês da Consciência Negra, já que o novembro tem se tornado referência para atividades que inspiram a luta e resistência da população negra.
No encontro, que reuniu mais de 100 pessoas pelo Google Meet, a diretoria do Sindeducação reforçou a importância dos (as) professores trabalharem questões raciais dentro da sala de aula e de refletirem sobre os rituais pedagógicos praticados para o combate ao racismo. Para a diretoria da entidade, ainda há a necessidade dos docentes da rede terem mais formação continuada que ajude a contribuir para a educação antirracista e, assim, transformar a escola em um espaço de desconstrução permanente da discriminação étnico-racial que permeia a sociedade.
O tema levado para a discussão, segundo as mediadoras Rosi Veloso e Ester Durans, diretoras do Sindeducação, é uma luta de muitos anos dos movimentos negros, serve para rever escolhas que dizem respeito não apenas as atividades extracurriculares ou comemorativas, ajuda também no processo de enfrentamento e na construção de identidade e autonomia dos (as) alunos (as).
Convidada especial do Sindeducação para abordar o tema, Martina Gomes, professora da rede municipal de Santo André/SP, mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Militante do movimento negro e feminista, trouxe para a discussão contextos históricos e a realidade da população negra no Brasil para o entendimento do mito da democracia racial, suas raízes e consequências no país. Para ela, a ideia da democracia racial contribui para o racismo “disfarçado” presente no país, pois, dificulta a compreensão do problema, e ajuda na manutenção do mesmo.
“Precisamos discutir o que se entende por democracia, não há democracia real quando se exclui uma parcela importante da população. No período atual entendo que tivemos retrocessos significativos. Essas ideias de ‘embraquecimento e hegemonia” voltaram com muito peso. Nós temos como uma tarefa importante reconstruir, inclusive em outras bases, e os movimentos negros têm muito a nos ensinar”, observou a educadora.
O convidado palestrante, Rosenverck Santos, graduado em História, Mestre em Educação e Doutor em Políticas Públicas ressaltou no encontro a contextualização histórica realizada pela palestrante Martina, observando que a sociedade ainda vê a educação como redentora dos problemas sociais, afirmando que, no Brasil, a educação é racista porque nossa formação social é racista e porque temos uma classe dominante racista e que, se não houver identificação das questões racistas, a população seguirá reproduzindo práticas de preconceito e estereótipos.
“O racismo estrutural atravessa todas as dimensões da sociedade, mas ele tem direção, corpo e mente, está na burguesia, nos latifundiários… é claro que isso pulveriza numa ideologia racista que faz com que os trabalhadores incorporem isso. Aí é que entra a tarefa dos movimentos sociais e dos sindicatos para quebrar a ideologia racista no seio da classe dominada, porque a dominante não deixará de ser”, avaliou.
O encontro formativo ainda discutiu sobre a Lei 10.639/2003, que estabelece a obrigação de se ensinar nas escolas a História e Cultura Afro-Brasileira. Para os participantes do evento virtual, se conseguíssemos implantar em sala de aula de fato a lei teríamos uma desconstrução dos preconceitos, além de valorizar a cultura negra tirando-a do lugar de calendários comemorativos. Para, além disso, a educação antirracista salva vidas, pois uma educação onde o indivíduo se vê positivamente o estimula o frequentar a escola e, se tivermos uma escola onde a população negra se enxergue positivamente isso irá diminuir o número de jovens negros assassinados.
Para a gestão “Da Unidade Vai Nascer a Novidade”, o encontro formativo, que faz parte das estratégias elaboradas pela Secretaria de Assuntos Educacionais, superou as expectativas da entidade, trazendo à tona uma temática tão necessária para a atualidade. Em breve, o sindicato promoverá mais um evento que vai impactar positivamente na atuação dos (as) docentes em sala de aula.