NOVEMBRO NEGRO | Coletivo Ará Ní Èkó realiza atividade de formação antirracista no Sindicato

O último sábado, 23 de novembro, na Semana da Consciência Negra, a sede do Sindeducação foi ocupada pelo Coletivo Ará Ní Ékó, que aprofundou o debate sobre a questão racial e a educação.

As discussões começaram pela manhã e avançaram até o início da tarde, com o auditório participando ativamente das discussões sobre “O SINDICATO E A EDUCAÇÃO: NA LUTA POR UMA SOCIEDADE ANTIRRACISTA”.

HOMENAGEM – De início, todos se emocionaram com a história de luta contra o racismo e em favor dos Direitos Humanos e da Educação, da professora Lourdes Siqueira, 87 anos, maranhense de Codó, professora aposentada da Universidade Federal da Bahia, com pós-doutorado na África do Sul e na Inglaterra. Ela cativou o público com sua mensagem de prosseguimento na luta, demonstrando uma força inspiradora necessária para o enfrentamento dessa grande questão. “Educação, formação, luta no combate ao racismo fazem arte da minha trajetória e por isso, não por coincidência a luta deste sindicato nesses enfrentamentos então também tem a ver comigo”, disse ela, que ainda citou uma célebre frase da também militante dos Direitos Humanos em São Luís, Helena Helluy, para resumir esta potente história: “Essa luta vale a pena”.

Na sequência, o encontro de gerações deu o tom forte da mesa de formação com a temática do encontro. A professora Sarah Gomes demarcou sua fala sobre “O antirracismo contra a extrema-direita”, destacando o fato de sua vivência hoje ser parte de uma teia que fora tecida ao longo do tempo através da luta de diversas gerações e como hoje isso é importante e impacta na batalha contra o conservadorismo que se alimenta e também nutre as opressões como as representadas pelo racismo e pelo machismo: “O trabalho que a gente faz hoje, que faço hoje, é fruto do trabalho de muitas mulheres negras que vieram antes de mim”. Sua fala ressoou ao que havia dito a professora Lourdes Siqueira: “”Somos milhões de pessoas negras, e entre esses milhões, somos milhões de mulheres negras”. Sarah ainda lembrou como o racismo o foi usado ao longo da História para hierarquizar pessoas, desde o colonialismo, e que a saída para o combater é, necessariamente, coletiva.

A professora Cláudia Durans, por sua vez, falou de sua trajetória como mulher negra, militante do movimento de professores (as) do Ensino Superior, e contou como foi a luta que levou o Andes-SN, Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior, a aderir à luta pela defesa das cotas como forma de acesso às universidades. O discurso favorável às cotas era minoritário no Andes, e levar o sindicato a defender essa posição foi uma grande tarefa. “Mas nós conseguimos. E estou contando isso para que vocês também saibam que podem fazer coisas que parecem impossíveis”, estimulou. Cláudia Durans tem toda uma história e experiência na militância do movimento negro e sindicalista que foi divido com os presentes. Ela destacou que o sindicato tem um papel central na luta de classes e como isso não está dissociado da pauta antirracista hoje.

RODA DE CONVERSA | Após as potentes falas que foram intercaladas com preciosas intervenções do público, passou-se à roda de conversa, em que foram apresentadas diversas obras escritas por professoras da base e que perpassam, em sua maioria, a questão racial: A professora Luanda Martins Campos partiu de uma história pessoal para escrever “Ayana e as flores de herança”, que, apesar de ser uma homenagem não é uma história triste, mas de memórias construídas a partir de diversas gerações de mulheres negras, altivas e rodeadas de afeto: “Assim que temos de nos ver, com nossa coroa sempre em pé em nossa cabeça”, disse.

A professora Katiúcia Ermiza Moreira da Silva Pereira, autora de “Educação Escolar Quilombola: um estudo no quilombo urbano do Maranhão”, fala em sua obra de como São Luís é costurada por grandes comunidades quilombolas, como a Liberdade, o Bairro de Fátima, a Camboa, ressaltando que essa é uma história que precisa ser escrita pelos seus protagonistas, como ela se propõe. “A gente precisa, nós, negros e negras, escrever sobre nós”.

Por sua vez, a professora Eliany Santos, de “No brincar do amor, a vida tem cor: propostas interventistas ao currículo antirracista na educação infantil”, contou como sua vivência de mulher branca foi se transformando em apoiadora da luta de forma mais eficaz e não apenas observadora, até atingir em sua produção literária.

RACISMO RELIGIOSO – A professora Kátia Clovié aproveitou a oportunidade para alertar sobre o racismo religioso, que persegue e busca criminalizar as religiões de matriz africana.

O encontro impactou todos os presentes de forma que repercute até hoje e assim deve seguir, devendo ser levado para todas as esferas da vida, já que essa é uma luta que atravessa nosso cotidiano. Assim, mais que uma máxima, esta foi uma oportunidade de vivenciar o fato de que, ao nos depararmos com o racismo, não basta não ser racista. É preciso, na prática do dia-a-dia, ser antirracista.

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