Secretaria lista escolas que supostamente têm Internet, mas não fala sobre estrutura para produção das aulas
A Secretaria de Educação expediu Circular (n.º 10/2020) aos professores da Rede Municipal, em que apresenta orientações superficiais sobre o ensino remoto, impõe trabalho aos sábados, e mais uma vez não descreve a contrapartida do Município de São Luís no custeio dessa “modalidade de ensino”, adotado unilateralmente pela SEMED como conteúdo oficial do ano letivo 2020. Ao longo dessa semana, o sindicato tem recebido diversas denúncias sobre a imposição de gestores para que os professores utilizem o aparelho celular pessoal para criar grupos de whatsapp com famílias de alunos, e façam, por conta própria, a entrega das atividades aos estudantes.
Durante reunião realizada com o sindicato e Ministério Público, no último dia 21, a Secretaria de Educação se comprometeu em viabilizar toda a estrutura necessária para implantação das aulas remotas na Capital, sem obrigar os professores que não possuam recursos tecnológicos e/ou conhecimento técnico, a gravarem aulas em vídeo com custeio próprio, disponibilizando, para tal, estrutura da escola de lotação ou em uma das 100 escolas, que segundo a SEMED possuem recursos para gravação das aulas.
Na Circular, a SEMED aponta as unidades escolares que supostamente possuem internet, mas não descreve se há recursos tecnológicos para a gravação, como: aparelhos celulares, notebooks e/ou computadores institucionais, tripé, iluminação, microfone, dentre outros equipamentos necessários à gravação e edição de aulas para os estudantes. “É muito fácil estabelecer o ensino remoto e jogar toda a responsabilidade de custeio com a produção, veiculação e interação para os professores”, frisa a professora Izabel Cristina, presidente em exercício do Sindeducação.
Auxiliares da SEMED confessaram, durante a reunião do dia 21, que as aulas remotas foram “pensadas da noite para o dia” a partir do momento em que a secretaria vislumbrou que não seria possível retomar as aulas presenciais em setembro. “Quando vimos que estava se aproximando a data de início das aulas presenciais e não seria possível retomar, nós nos debruçamos para construir um documento orientador das aulas remotas”, relatou uma representante da secretaria que acompanhou a reunião.
No item 2 da Circular, a SEMED expõe o caráter limitado da Plataforma Simplifica, que oficialmente é anunciada como gratuita, mas que de fato é fruto de uma “parceria” firmada a peso de ouro entre Município de São Luís e Fundação Lemann, do bilionário Jorge Paulo Lemann dono da maior cervejaria do mundo, a AMBEV, e que agora envereda pela área da Educação Pública, com objetivo meramente mercantilista.
A professora Nathália Karoline explica que a “Simplifica” é limitada porque não alcança todos os estudantes e professores da Rede pela falta de universalização do acesso à internet, mesmo que sua plataforma possa ser acessada off-line, pois em algum momento o usuário terá que possuir uma internet banda larga para baixar os dados atualizados do sistema; e de outro lado, se estão cobrando os professores para que utilizem grupos no aplicativo whatsapp, é porque o Simplifica é um fracasso já anunciado.
Outro fator que limita o programa, é que ele não alcança a Educação Especial e o EJA – Educação de Jovens e Adultos. “A Simplifica nada mais é que a tentativa de privatização do ensino, a partir da visão mercantilista da educação, desprezando a construção pedagógica dos professores no processo ensino-aprendizagem”, salienta a dirigente sindical.
O item 5 sacramenta o “cada um por sí, Deus por todos” na Rede Municipal, atribuindo o papel organizador do ensino público aos gestores escolares, ou seja, cada escola vai trabalhar de uma forma, com estratégias próprias “para envolver os estudantes”. “Como será a aferição desse aprendizado. Quantas variáveis teremos que utilizar?” questiona a presidente do sindicato.
A Circular n. 10 é cheia de superficialidades, descritas apenas para reforçar o caráter de imposição e assédio moral instalados pela atual gestão da SEMED contra os professores.
Acesse a íntegra do documento AQUI.
DENÚNCIA AO MP
O Sindeducação está colhendo diversas denúncias, provas e depoimentos de professores, para juntar a um documento construído ao longo dessa primeira semana de ensino remoto, para apresentar ao Ministério Público, comprovando o descumprimento dos entendimentos e acordos celebrados durante reunião.
A entidade sindical, diante da postura de imposição e falta de diálogo da SEMED, também está juntando tais provas para ajuizamento de uma ação na Justiça, contestando o modo como se dá a oferta do ensino remoto na Capital, a partir da penalização dos professores, e limitação do acesso aos estudantes, dentre outros.
Para denunciar, os professores devem enviar mensagem para o e-mail: diretoriasindeducacao@gmail.com , com depoimento escrito, nome, UEB de lotação, fotos, capturas de tela, mensagens de gestores impondo utilização de equipamentos, internet e outros de âmbito pessoal, vídeos, dentre outras provas que possam contribuir com a denúncia ao MP e ação na Justiça. O professor poderá resguardar a identidade, desde que informe no e-mail, mas a UEB de lotação será identificada na denúncia do sindicato.
PROPOSTA DO SINDICATO – A proposta do Sindeducação é que o ensino remoto deva ser utilizado como suporte, de forma complementar, para que as crianças e jovens mantenham vínculo com a escola, até que as aulas presenciais sejam retomadas. O sindicato entende que as aulas remotas não podem ser o meio oficial de ensino, pelo fato do alcance limitado, complexidade de sua aferição e controle, já que grande parte dos estudantes da Rede Municipal são oriundos de famílias em situação de vulnerabilidade social, que não têm acesso a recursos tecnológicos, e mesmo os que têm, terão dificuldades de acompanhar esse processo.
Para o Sindicato dos Professores, a adoção do ensino híbrido (aulas remotas + atividades impressas), um dos pilares propostos pela SEMED, ocasionará, de forma inimaginável, a exclusão de milhares de estudantes do processo de ensino-aprendizagem e do acesso à Educação Pública, princípio fundamental da Constituição Federal de 1988.
O sindicato entende que o Ano Letivo 2020 deve ser unificado ao calendário 2021 com o acréscimo de dias letivos, sem comprometimento da Hora-atividade e dos finais de semana dos professores. “É possível, basta a SEMED nos ouvir e querer construir o planejamento de forma coletiva. Não aceitaremos imposições como essas que deixam de lado a vida e a saúde psicológica e emocional das crianças, adolescentes e dos profissionais do Magistério diante do contexto da pandemia. Com essa pressão teremos mais casos de doenças e mortes no seio da categoria, por isso dizemos não às diretrizes unilaterais da SEMED e sim à vida”, pontua a professora Izabel Cristina, presidente em exercício do Sindeducação.
Problema histórico ocasionado pela própria Administração Municipal fez com que existissem, dentro das 266 escolas da Rede Municipal, até sete calendários letivos, fruto das infinitas reformas que não são concluídas pela Prefeitura de São Luís, interdição de prédios pelo Corpo de Bombeiros, falta de professores para diversas disciplinas, dentre outros.
As propostas do Sindeducação são fruto de reuniões remotas realizadas com a participação de professores de base por escola e com professoras suporte-pedagógico. Nas propostas, os educadores apontaram para retomada das aulas presenciais no dia 4 de janeiro, com o Ano Letivo 2020 e 2021 unificados, data em que provavelmente a população já deverá estar vacinada. O ponto central dessa proposta é que o levantamento das aprendizagens essenciais levem em consideração todo o quadro de desorganização do calendário da Rede, já que muitas ainda não concluíram o Ano Letivo 2019, algumas não iniciaram 2020, além de outras situações ocasionadas pelo descompromisso do Poder Público Municipal.
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Imprensa Sindeducação.