Na reta final para apresentar contribuições para a Base Nacional Comum (BNC), cujo prazo encerra-se no dia 15 de março, os professores do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) organizaram debates sobre o tema. As reuniões aconteceram no auditório da unidade e foram abertas a alunos e funcionários.
Desde o início das discussões sobre o texto preliminar da BNC (leia mais abaixo), a disciplina de história foi uma das mais criticadas por especialistas. O conteúdo correspondente à área inclusive não constava no documento na data de divulgação, sendo acrescentado posteriormente.
O Todos Pela Educação acompanhou a primeira mesa, que reuniu os docentes e pesquisadores das áreas de História Medieval, História da África e História do Brasil Colonial, com a mediação da professora Antonia Terra de Calazans Fernandes, especialista em ensino de história. Em sua introdução, ela deu o histórico da construção da BNC, criticando pontos do processo e ressaltando que a “área específica de história tinha sérios problemas”, como a quantidade extensa de objetivos de aprendizagem no 9º ano do Ensino Fundamental e conceitos complexos para serem absorvidos por crianças de 6º ano, como o quadripartismo histórico.
Ana Paula Magalhães, docente de História Medieval da FFLCH ressaltou que o período não aparece na proposta do MEC, o que é um equívoco, uma vez que a Idade Média tem questões emblemáticas para a compreensão de modelos sociais e culturais posteriores, como a colonização. Ela também destacou que fenômenos mediáveis como a “Igreja e o feudalismo têm natureza sistêmica” e deveriam ser incorporados à BNC para dar aos estudantes a perspectiva de permanências e longas durações na história em geral.
“Brasilcentrismo”
Para Marina de Mello e Souza, que leciona História da África, há “equívocos terríveis” na base. De acordo com ela, a África foi privilegiada no texto, o que provocou um deslocamento do olhar eurocêntrico de antigas propostas curriculares para uma visão “brasilcêntrica”. “Tudo aparece do ponto de vista do Brasil e do Atlântico; a África é vista a partir disso. Há ausência de contextualização e de processo histórico, ignorando toda a produção acadêmica sobre esse tema”, pontuou.
Rodrigo Ricupero, professor de Brasil Colonial, também apontou o “caráter nacionalista”. “Outro problema grave é o da cronologia, organizando tudo em grandes eixos temáticos, o que cria uma situação de colocar conteúdos no liquidificador e entregar para os alunos. Temos uma grande geleia geral do que é a historia”.
No dia 1 de março, está programada uma plenária para a elaboração de um documento com as discussões do departamento. Para saber mais, clique aqui.
Entenda
A BNC pretende assegurar que todo estudante brasileiro, em todas as regiões do país, tenha acesso à aprendizagem de conhecimentos fundamentais, promovendo equidade e maior coerência em todo o sistema educacional. O texto, que contempla todas as disciplinas e servirá de base para os currículos das escolas e redes de ensino, deve ser aprovado até o dia 24 de junho de 2016, conforme determinado no Plano Nacional de Educação (PNE). Uma versão preliminar foi divulgada em setembro do ano passado.
Até agora o Ministério da Educação (MEC) afirma ter recebido mais de 10 milhões de contribuições para o texto. O prazo para colaborar será encerrado no dia 15 de março.
Todos pela educação