Dia 30 de abril de 2019, um dia comum como tantos outros, em que nós, como trabalhadores e trabalhadoras de uma categoria, fomos convocados e convocadas a paralisar nossas atividades docentes, para irmos às ruas como tantas vezes já fizemos.
E como tantas vezes, pensei: vai ser mais um daqueles momentos em que uma minoria vai para a luta, enquanto a maioria fica em casa, vai passear, ou, pior, ficará na escola dando uma aula com comodismo e alienação.
Mas fui cumprir, mais uma vez, com o meu papel de quem acredita que só mostrando a cara é que podemos transformar, modificar. E fui. Desanimada, mas, fui.
A realidade se mostrou tal qual eu imaginara. Rostos conhecidos, praticamente os mesmos. Elisabeth, aguerrida presidente do Sindeducação, no uso do microfone, já quase sem voz, tentava manter a animação e a coragem dos presentes para a caminhada rumo à Secretaria de Educação.
E lá fomos nós, com nossos apitos, gritos de guerra, faixas e bandeiras nas mãos. Sentindo a falta dos colegas para engrossar as fileiras de luta, mas com pisadas firmes, não nos deixamos sentir pela ausência de tantos.
Ao chegar na frente da SEMED, nossas vozes eram um só eco de revolta e denúncia, pelas condições precárias que vive a Educação Pública da Capital. E nas falas indignadas, verdadeiras e fortes, fomos pouco a pouco mostrando a realidade da educação municipal para populares, Imprensa, e até mesmo para a Polícia, que lá foi para tentar nos intimidar.
De repente, fomos cercados pela PM. Homens encapuzados, fortemente armados com suas metralhadoras potentes, dedos engatilhados e prontos para reprimir, prender,…,matar!
Agiram como se terroristas fôssemos!
E foi nesse momento, que aquele grupo de mulheres e homens acostumados a lidar com livros, cadernos, pincéis e alunos, protagonizaram um verdadeiro Batalhão de Guerreiras e Guerreiros.
Não houve recuo, ninguém se afastou, todos se juntaram. E foi exatamente ai que eu vivi, que eu compreendi os dizeres: “Ninguém é mais forte do que todos nós juntos”, “ninguém solta a mão de ninguém”, mexeu com um, mexeu com todos”. E dentro de mim nasceu um orgulho tremendo por fazer parte dessa página da história dessa categoria, mesmo sendo escrita por uma minoria de professores presentes.
E junto com nossos gritos, repressão e ameaças de prisão, nervosismo de uns, ousadia de outros, tentativas de negociação, quando de repente veio a chuva: forte, molhando, com seus pingos grossos, a tudo e todos, misturando-se as lágrimas de muitos professores.
Nem o temporal foi capaz de nos separar! Só quem estava lá sabe, de fato, o que eu estou descrevendo. A Polícia não calou a nossa voz! Tentaram, mas não calaram. E, mais uma vez, mostramos quanta força nós temos.
Fico a imaginar: Como seria se todos e todas estivessem lá?
Para quem estava lá, quanto orgulho!
Junto com o orgulho, sinto também uma dupla indignação. Primeiro, pela forma como esse governo trata professor e aluno. A falta de respeito e de responsabilidade com a Educação.
Segundo, pela omissão, medo, comodismo e alienação de parte dos professores e professoras da categoria do Magistério.
Mas, independente da indignação, que teima em tomar conta de mim, o que está vivo e bem presente na minha mente, foi o que vivemos no Dia 30 de Abril.
A confiança que depositamos uns nos outros, a coragem vencendo o medo. De tudo que aconteceu, penso que fica uma grande lição para todos: a certeza de que nós nunca nos renderemos; para quem se omitiu de participar, de ir para a rua, a advertência de que, ou paramos para lutar, ou eles, sem lutar, nos param!
Para quem estava no movimento, e, para mim, só muito orgulho!
Josidete Barbosa – Professora da Rede Municipal de Educação – São Luís.