“O Patrimônio nas Escolas” – categoria deve se apropriar do programa

Nesta semana (11 e 12 de março) ocorreu o segundo momento de formação do Programa “O Patrimônio nas Escolas”, lançado pela Prefeitura de São Luís, em 2022. Segundo seus documentos, o Programa tem como objetivo levar à comunidade escolar o tema da educação patrimonial, possibilitando o desenvolvimento de uma maior compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal da cidade de São Luís, em especial seu Centro Histórico, tombado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Patrimônio Mundial. Está sendo realizado por meio de uma parceria entre a Fundação Municipal de Patrimônio Histórico (Fumph) e a Secretaria Municipal de Educação (Semed) e deve envolver cerca de 38 mil alunos do 6º ao 9º ano e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

No final do mês de fevereiro (28) já havia sido realizada cerimônia de entrega de kits de livros literários do Programa. O evento contou com a presença de gestores (as) das escolas, professores (as) suporte pedagógico e professores (as) dos componentes curriculares de Geografia, História e Arte do Ensino Fundamental Anos Finais e EJA, II Segmento, das Unidades Básicas de Ensino da Rede Municipal de São Luís, que, ansiosamente, esperavam por um material que trouxesse aspectos do patrimônio material e imaterial, contribuindo para o sentimento de pertencimento dos alunos e alunas.

A coleção, que será distribuída nas unidades de ensino, é composta pelos livros literários – “O presente de Jussara” (6º ano), “O Boi Bombom” (7º ano), “Luísa na Roda do Tambor e As Peças de um quebra-cabeça” (8º ano), “Intriga em São Luís” (9º ano) e “O tesouro da Bisa” (EJA). Cada escola recebeu simbolicamente um kit e os professores e professoras apenas o manual do educador.

O Sindeducação considera “O Patrimônio nas Escolas” uma importante iniciativa que pode beneficiar toda comunidade escolar, mas não só, toda sociedade ludovicence ganha com a valorização e salvaguarda do patrimônio da cidade. O programa pode transformar-se em oportunidade única para os (as) estudantes terem acesso à literatura associada à valorização da memória, história e cultura da nossa cidade. Além disso, deve constituir-se como uma ação sistemática de formação continuada para os (as) professores (as).

Neste sentido, consideramos fundamental que os (as) professores (as) envolvidos se apropriem do “O Patrimônio nas Escolas” exigindo que sejam dadas as condições necessárias para poderem efetivamente desenvolver as atividades, como formação sistemática, assessoria pedagógica constante, veículos para realização de visitas ao equipamentos e casarões do Centro Histórico, adequação dos horários e capacitação para os guias dos museus e casarões, disponibilização dos materiais aos alunos (até o momento, os kits não chegaram nas escolas), etc. Somente assim as falas proferidas pela gestão municipal na cerimônia de entrega dos kits, sobre a importância do trabalho do professor para que o programa alcance seu objetivo, representarão genuína valorização dos professores (as). Do contrário, será mais um programa “para inglês ver”.

CONTRADIÇÕES

Para a surpresa do público ao receber o material e assistir às palestras, a maioria dos autores e autores convidados para elaboração do material não é maranhense. Uma contradição identificada pelos docentes, que não compreenderam a motivação das escolhas realizadas pela Semed e Fumph. Será que em nosso estado não teriam artistas e autores (as) tão qualificados quanto para escrever sobre a nossa cultura e nosso patrimônio? Não se poderia realizar parcerias com instituições universitárias maranhenses, considerando que temos nas universidades vários grupos de estudos que pesquisam sobre a temática? Como os próprios palestrantes afirmaram, nosso maior patrimônio são as pessoas, se o intuito do Programa é fomentar a identidade, o reconhecimento, o pertencimento e a construção da salvaguarda do Patrimônio Material e Imaterial de São Luís, por que não valorizar nossos artistas e escritores neste processo?

Outra questão que consideramos importante é o recorte étnico- racial, não só na escolha dos elaboradores dos materiais, mas também na abordagem do tema, pois estamos falando de um patrimônio cultural com fundamental influência dos povos negros e indígenas. O programa perde oportunidade de fomentar a discussão sobre a nossa identidade cultural/patrimonial, colocando em prática as determinações incutidas nas Leis nº 10.639/2003 e 12.288/2010, que até hoje carecem de implementação na educação e na sociedade.

Assim, não podemos deixar de saudar Camila Reis, a única mulher negra entre os (as) autores (as), que fez uma belíssima apresentação na cerimônia, mostrando que arte, cultura e resistência pulsam em nossas veias.

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