Coordenador pedagógico: fragilidade na atuação e desafios da carreira

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Na trajetória da história da educação brasileira durante muito tempo os professores desenvolveram suas atividades “sozinhos”, sem nenhum tipo de auxílio ou orientação de suas práticas pedagógicas.

O que temos hoje: uma rotina escolar organizada, uma previsibilidade das ações pedagógicas mesmo sem a certeza da continuidade e da aplicação dos planejamentos, enfim, tudo que é prioritário na rotina da escola é um grande avanço no reconhecimento do papel do coordenador pedagógico, mas, de fato, também se configuram como frágeis colunas de sustentação na atuação deste profissional.

Não somente na rede pública municipal de São Luís, mas, em qualquer rede de ensino da educação básica, temos um único cenário: o desvio de função do coordenador pedagógico e os desafios da afirmação de uma carreira específica.

O ponto de partida dessa problemática está na dificuldade da construção de uma identidade profissional, que começa desde a formação inicial destes profissionais nas faculdades de Pedagogia do país.

Os currículos dos cursos de Pedagogia do Brasil, sejam de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas ou privadas, ainda estão muito distantes de conseguir aproximar os futuros licenciados em Pedagogia da realidade que os espera pós-formatura e, principalmente, capacitá-los como profissionais preparados para o enfrentamento do atual contexto das escolas brasileiras atuando como coordenadores pedagógicos conscientes de seu papel essencialmente formativo e colaborativo.

A extensa necessidade de demandas nas escolas acaba “desorientando” os coordenadores pedagógicos, onde muitas vezes é quase impossível focar, priorizando as ações pedagógicas e nesse turbilhão o coordenador pedagógico se torna uma espécie de “faz tudo”.

Temos visto de tudo um pouco: coordenadores pedagógicos atuando como secretários(as) preparando documentos da escola, redigindo atas; como gestores preenchendo registro de ocorrências, comunicados de advertência ou comparecimento aos pais, cuidando da entrada tardia ou saída antecipada dos alunos; como assistentes sociais tendo que intermediar situações de conflitos junto aos Conselhos Tutelares e famílias; como psicólogos tendo que resolver problemas de indisciplina, racismo, preconceito, orientação sexual, violência escolar, etc.; como tutores e/ou cuidadores de alunos(as) com deficiência e tantos outros papéis que lhes desviam o foco de suas funções primordiais. Nesse contexto, que horas vai “sobrar” tempo para o coordenador pedagógico realmente conseguir atuar como tal?

É preciso ser organizado(a) e não se deixar levar pela impulsividade de querer “resolver tudo”; já que os problemas não vão deixar de existir, é necessário saber lidar com seus limites e possibilidades, apontando caminhos para que os outros sujeitos, num trabalho em equipe e com bastante diálogo, possam ter autonomia e clareza no desenvolvimento de suas funções e atribuições dentro do espaço escolar.

Elaborar uma agenda ou um plano de ação semanal já é um bom começo para que o coordenador pedagógico tenha sua atenção focada, principalmente, no planejamento e condução das reuniões escolares; no acompanhamento e orientação das práticas pedagógicas dos professores e na manutenção do acompanhamento dos resultados de aprendizagem dos alunos e, consequentemente, no alcance dos objetivos de ensino dos professores.

O contexto atual é cada vez mais desafiador para o desenvolvimento da função de coordenação pedagógica, o desgaste no enfrentamento e a busca de soluções para os problemas escolares poderia ser minimizado se fossem oportunizadas ações de prevenção, a exemplo do que pode ser explorado através da realização de projetos escolares, num trabalho bem planejado e com a intencionalidade específica para cada objetivo pedagógico e tudo aquilo que de concreto se pretende alcançar dentro e fora da escola.

E ainda no que se refere ao seu papel, o coordenador pedagógico deve ser essencialmente articulador, estando sempre aberto ao diálogo, além de um excelente formador! Já que os professores não somente necessitam de acompanhamento, mas, também de aprimoramento, através de conhecimentos partilhados para melhorias didático-metodológicas, colocando em prática o projeto político pedagógico e proporcionando momentos de socialização, para manter sempre um bom relacionamento interpessoal tanto com os professores quanto com os gestores.

A carreira se desenvolve sob diversos entraves, partindo da própria identidade profissional e permanecendo arraigada à falta de valorização. A trajetória é de batalhas pessoais e coletivas, na busca de reconhecimento, incentivo à capacitação e melhorias tanto da jornada de trabalho quanto da remuneração salarial.

Sabe-se que muitos assumem uma coordenação pedagógica sem nunca ter passado pela regência de sala de aula e isso dificulta o acompanhamento do corpo docente, mas, também sabe-se que a grande maioria dos profissionais que hoje assumem a coordenação pedagógica são professores que não tiveram uma boa formação teórica e tampouco, teriam uma sensibilidade para o diálogo com a comunidade. Se nem todo bom professor se torna um bom coordenador, estes, porém, tem uma predisposição para desenvolver na prática, boas formações para o corpo docente que acompanha, com as estratégias mais eficientes para contribuir com a prática docente de seus pares.

Enfim, diante de toda essa realidade, é preciso “voltar às raízes” … Numa tentativa de reduzir as dificuldades da carreira podemos buscar “respostas” na própria história da Antiguidade. A etimologia da palavra pedagogo, vem do latim “pedagogus” mas, tem sua origem grega em “paidos”, que significa “criança” e “agoge” que significa “conduzir” ou “condução”, numa tradução livre “conduzir a criança”, ou seja, ensiná-la e ajudá-la no crescimento.

Os coordenadores pedagógicos precisam “ser conduzidos” por políticas educacionais que favoreçam a formação de uma identidade profissional alicerçada por uma formação inicial de qualidade, a legitimar suas frentes de atuação diante dos demais envolvidos na comunidade escolar e a cobrar ações das redes de ensino na organização do tempo e dos espaços dedicados à formação continuada com apoio didático, com melhores salários e valorização profissional. 

Texto reflexivo

Por Nathália Karoline Sousa dos Santos

Pedagoga e professora da rede municipal de São Luís

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